CRÕNICA DA MOÇA BONITA QUE SE FOI EM VOO SOLO FEITO ICARO EM BUSCA DO SEU PRÓPRIO SOL. Nazzareno Santos Escritor, jornalista, professor e presidente da Academia Itaitubense de Letras.

 



Vocês não me encontrarão vivo no nascer do sol (Nostradamus), Nunca se sabe o final. A pessoa tem de morrer para saber exatamente o que acontece depois da morte, embora os católicos tenham suas esperanças (Alfred Hitcock).  Vou ilustrar o tema com um trecho de uma carta de uma atriz global famosa, Leila Lopes após ter se suicidado ingerindo venero para ratos. Carta de Leila

“Eu não me suicidei, eu parti para junto de Deus. Fiquem cientes que não bebo e não uso drogas, eu decidi que já fiz tudo que podia fazer nessa vida. Tive uma vida linda, conheci o mundo, vivi em cidades maravilhosas, tive uma família digna e conceituada em Esteio, brilhei na minha carreira, ganhei muito dinheiro e ajudei muita gente com ele. Realmente não soube administrá-lo e fui ludibriada por pessoas de má fé várias vezes, mas sempre renasci como uma fênix que sou e sempre fiquei bem de novo. Aliás, eu nunca me importei com o ter. Bom, tem muito mais sobre a minha vida, isso é só para verem como não sou covarde não, fui uma guerreira, mas cansei.

 



Abro essa crônica com dois pensamentos de famosos sobre a morte. O Brasil é o oitavo pais do mundo com maior índice de sucidios.na sua opinião se trata de um caso de saúde pública?  O problema tem sido um nó górdio como um desafio para a psicologia clínica.  A morte de um suicida obviamente é uma tragédia pessoa porque os motivos viram interrogações. Setembro é o mês amarelo escolhido para fazer campanhas contra o suicídio.

Entendendo que ao mesmo em que é coisa mais angustiante, talvez o que mais leve alguém a refletir sobre o valor da vida é quando você está navegando numa caixa de Pandora chamada celular e deparar-se com a imagem e o fato de quem alguém se suicidou.   Ai as teorias existenciais afloram aonde cada um se prende ou se , liberta de suas concepções de fé, Deus, salvação, as interrogações dominam mentes e coração, sem respostas porque nós somos seres estranhos que alimentamos o silêncio, que nos alimentamos de respostas evasivas tanto quanto a indiferença num mundo de tanta velocidade,  que as fibras óticas de nossa insensibilidade vão nos deixando na linha de vanguarda ou sem querer vamos deixando outros para trás, porque fizemos da vida apenas um sentido acumulativo de ter e não ser.

Assim feito Ìcaro que fez seu voo em busca da magia do sol, que derreteu suas asas e ele mergulho no mar da morte se afogando em seus sonhos de conquistas, assim a moça bonita se foi carregando em sua volatilidade de vida a morte, um espectro sombrio que veio antes do tempo,  mas o que é o tempo se nossa angustia existencial ou nossa ânsia de felicidade são   facas de dois gumes?

 A moça bonita se foi deixando uma filhinha que agora vai precisar entender que sua mãe fez um voo solo, voando no infinito de sua solidão mesmo tão longe e tão perto daqueles que lhe foram caros em vida que são seus parentes.  O cantor Belchior em uma de suas frases mais terríveis quando também enfrentava a Depressão (que acabou contribuindo para sua morte)  ele escreveu uma frase aonde dizia.  ”Ano passado eu sofri muito mais do que um cachorro, ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro”

Não sei que cor poderíamos dar a essa praga, outubro cinza, azul, vermelho só sei que o demônio inesperado de todas as horas que muitos chamam de demônio do meio dia que é a depressão, veio, veio e levou por uma soma de coisas que jamais saberemos porque o  suicida é com alguém que arruma suas malas meticulosamente não faça a ninguém sobre itinerário e se vai sem sabermos se é uma ida ou também uma vinda, afinal vida é uma ida e vinda, a vida é uma necessidade de sonhos, de fé de estarmos  mais próximos de Deus, mas nem sempre as respostas chegam da mesma forma para todos e muitas vezes ela se transforma num vazio, como se a felicidade fosse um olhar de Medusa petrificando tudo que pareça perfeito, porque a busca do sentido é uma ilusão de alma e o mundo está ficando cada vez mais uma caricatura do que somos e o sentido do que queremos ser.

Isto porque o homem é o único animal que ri e enterra seus mortos, o único animal que julga e condena ao mesmo tempo, mas culpa da moça ter se suicidado talvez seja de todos nós que fazemos de conta que a depressão é uma utopia, talvez do estado que não busque, não crie propostas para ajudar que não haja um fundo de poço, porque o fundo do poço é um produto de nossas tragédias pessoais e de feridas mal curadas quem sabe. Uma soma do que não fomos quando deveríamos ter sido no sentido do amor, da solidariedade, da troca, do complemento.

Não é culpa do celular que para muitos ao invés de aproximar está distanciando as pessoas, não é culpa de Deus que nos fez a sua imagem e semelhança e nos recomendou que nos amassemos uns aos outros como a si mesmo.

Eu não conhecia a moça bonita mas ela se foi, eu não conhecia o jovem que se matou nas drogas e depois terminou o serviço com uma corda no pescoço, eu não conhecia um idoso aposentado que talvez abandonou ou foi abandonado pela família e não suportando a solidão de não ser também se foi antes do tempo, porque o tempo cada um faz com a argamassa da tristeza, dos sonhos, da fé, da esperança cada um constrói seu muro ou sua ponte ou para atravessar ou para se jogar dela a vida não é uma ponte deveria ser um jardim para enxergamos nela a razão de tudo ou quase tudo que nos faz ser gente e não lixo reciclável de um mundo tecnológico tão avançado mas  ainda tão atrasado no quesito dialogar, compreender.   Infelizmente um fato é inexorável nessa vida ou abandonamos ou um dia seremos abandonados, talvez esteja no DNA humano que se perdeu entre o sentido deter e a razão de ser.

Não sei se a moça bonita deixou uma carta, um bilhete ou algo parecido geralmente o suicida deixa se desculpando, se explicando eu já várias cartas de famosos e anônimos, lembram de Getúlio Vargas que disse que estava saindo da vida, mas entrando para a história.  Todos os suicidas são assim resolvem sair da vida para na verdade sair de nossas histórias já que a história dela vai junto com o ato tresloucado dentro de um recipiente hermético que ninguém vai lê, nem entender porque as pessoas desaprenderam a interpretar o sentido da vida, a entender a razão do amor ou a desrazão do ódio.  Como cronista poderia escrever aqui um tratado, uma tese , um mestrado sobre vida e morte mas nunca poderia explicar como o mundo ficou tão pequeno e está ficando cada vez mais silencioso não apenas porque as pessoas não falam, se perdem entre labirintos tecnológicos fascinantes mas sombrios,  digitam, ninguém mais escreve cartas um bilhetes a não ser quando morrem ,como fazem os  suicidas .

E para que você reflitam ais ainda além dessa crônica sugiro que assistam mas todos juntos num sofá, pai, mãe, pai filhos, (isso também está em extinção)  de preferência com os celulares desligados ao filme o Telefone do Senhor Harrigan,  na Netflix, nessa história não é vida que imita a arte, mas a arte que imita a vida.  Solidão é ruim, é chata é o que dizem, mas porque as pessoas estão cada vez mais se isolando através do celular?

  como a moça bonita não soube responder a si mesmo, como ela não encontrou nem dentro de casa quem talvez respondesse pra ela, não farei tantas perguntas porque as vezes a vida dispensa ruídos e quando isso ocorre a morte ocupa espaços que não deveria porque nos falta inteligência emocional para gerenciarmos os nossos e os sentimento do outro.   O outro quem?  talvez aquele ou aquela que está invisível ao nosso lado escondido dentro de uma caixinha mágica aonde guardamos toda nossa vida feito um rico avarento que põe tudo dentro de um cofre e esconde a chave sem ninguém sabe.

 

 

Postar um comentário

0 Comentários